terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ampulheta

Uma pequena divagação sobre o tempo.



Ampulheta


Quantas horas tem o dia de alguém que ama?
Sobretudo aquele amante inveterado, para o qual tal estado - o de estar amando - é parte essencial da vida.
Como corre seu tempo em função do sentimento?


Quanto dura uma hora? 
Horas para quem a distância, impiedosa, rouba os sublimes instantes de aconchego nos braços amados;


E um minuto? Quanto tempo leva?
Dias àquele que à noitinha aguarda, velando a porta, o retorno do outro que também conta traço a traço os meses no relógio, ansioso em dissipar o cansaço nos lábios amorosos de quem o espera;


E num segundo? Quantos momentos?
Árduos anos para quem  quer ouvir a imediata resposta do amor que a outrém acaba de ser revelado;


E o instante como contar?
Milênios unilaterais de sonhos para aquele que sorri na alegria do ser amado. Que chora quando o sofrimento assola os arredores do coração daquele a quem se ama.
São diversas viagens na eternidade com os amores tímidos que seu mundo encarrega de tornar possível. Mas só no seu mundo.


Eu já nem conto o tempo. Sei que ele implacavelmente caminha pé ante pé. Na verdade ele corre em passos largos, distantes e rápidos; e em cada passo um devaneio.
Aonde ele vai com tanta pressa? Parece correr de algo, ou alguém...
Ele corre de algo, ou atrás de algo?
Apesar de rápido, em se contando a larga estrada que percorre parece que nunca partiu de onde foge ou que nunca vai chegar aonde deseja.


Em meu peito uma bomba. Uma bomba relógio. Em meu peito uma bomba relógio regida por este tempo ligeiro e estagnado. Este tempo dos amantes que discrepa da realidade, mas afiniza-se com a infinita verdade de cada universo que pulsa.


Marcos de Oliveira Melo




Não me perguntem quando escrevi porque não lembro. Já tem muito tempo... e levei tanto tempo para concebê-lo...

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